domingo, 31 de março de 2013

ENTREVISTA DOCENTE: Prof.ª Izabela Filgueira




Nome: Izabela Filgueira de Medeiros
Formação: Licenciatura Plena em História
Locais de Trabalho: Escolas Particulares: GEO – Garcia e Brito, Colégio Ideal, Ciclo de Aprendizagem Positivo – CAP
Escolas Estaduais e Municipais do RN (em Mossoró e Tibau - Estágio e contrato temporário): E.E. Vingt Rosado, E.E. José de Freitas Nobre, E.E. Aída Ramalho, E.E. Rui Barbosa, E.M. Sagrado Coração de Maria.

1 - Pra iniciar, como você avalia o processo educacional brasileiro?
O processo educacional brasileiro vive num dilema, pois o nosso país não vê a educação como prioridade. O Governo quer cidadãos que não contestem, não tenham boa educação, pois cidadãos conscientes são sinônimo de revolução, de cobrança por melhorias. Dessa forma o professor não precisa ser bem remunerado, os alunos e colegas de trabalho não precisam respeitar, e os pais não veem a escola como aliada.
2 - Segundo Paulo Freire, não existe educação sem amor. Você concorda?
É preciso ter muito amor para trabalhar de forma quase filantrópica, passar por cima de todos os problemas e ainda conseguir enxergar o outro como sujeito que necessita de sua ajuda, mesmo ele achando que não precisa de você e que você é um chato.
3 - Quais os autores que você tem como referência para desenvolver suas atividades em sala de aula?
Paulo Freire, para mim, é o único autor que fala com autoridade sobre educação, pois ele vê a verdadeira essência da educação. Para ele a educação liberta.
4 – Como se deu inicio a sua carreira em educação?
Eu sempre gostei muito de ler, e minha família tinha uma escola. Eu tinha vontade de ser psicóloga, mas o curso de psicologia só tinha em Natal, e eu não estava preparada suficientemente para fazer um vestibular na UFRN, pois para fazer o vestibular precisava ter domínio em todas as áreas e o curso que queria era muito concorrido, e eu só me identifico com as humanas. Meu irmão me propôs fazer o vestibular na área de Licenciatura, para poder me preparar para ensinar na escola da família, e assim eu fiz.
Na verdade não ensinei por vocação, pois há muitas realidades nas escolas que não concordo, não tolero hipocrisia.
Desde 1999 que ensino, entre atuações e desistências, ensinei até 2012, onde desisti definitivamente de atuar na área de educação, por não acreditar no modelo educacional que aí está.

5 – Sabemos que a participação da família no processo educativo é algo complicado de se alcançar, porém sua concretização trás muito êxito ao desenvolvimento da aprendizagem do aluno. O que você desenvolve ou até, mesmo, sugere que seja feito para aproximar os pais à sala de aula de seus filhos?

Para chamar atenção dos pais, é preciso modificar primeiro a sociedade. Muitos pais veem a escola como um lugar para garantir a bolsa escola, outros um lugar para o filho ir para não ficar por aí, ou um lugar pra aprender a ler, escrever e contar. E há até alguns que acreditam que a escola vai modificar a vida de seu filho, esses não precisam ser atraídos, pois já são ativos na educação de seu filho.
Quanto a escola, precisa ter, primeiramente, credibilidade e exemplos para mostrar a comunidade, pois o exemplo convence. Sem essa realidade, não é possível fazer com que os pais acreditem, nem se aproximem da escola.

6 – Como você lida com a interdisciplinaridade na escola?
A interdisciplinaridade é um dos melhores caminhos para transformar o conhecimento em algo concreto. Mas é muito raro observar práticas interdisciplinares, pois os professores confundem interdisciplinaridade com projetos interdisciplinares. Não precisa de um projeto para agir de forma interdisciplinar, basta que haja diálogo entre as disciplinas e pôr em prática atitudes inovadoras que tenham um respaldo real.
A dificuldade é que, os professores reclamam da educação tradicional, mas não largam a prática de uma educação mecanicista e conteudista.

7 – Ser professor nem sempre corresponde as mesmas condições de trabalho, inclusive as diferenças entre as modalidades de ensino. Você acha que atuar no Ensino Fundamental e no Ensino Médio requer uma prática diferenciada de quem atua na educação infantil ou até mesmo nos anos iniciais do ensino fundamental?
Sem dúvida, o tratamento não pode ser o mesmo, são níveis diferentes que precisam ser tratados de forma diferente. Nem mesmo salas de aula de mesmo nível de ensino são iguais, cada sala de aula, ou até mesmo, cada aluno é um mundo.
8- O curso de pedagogia é conhecido pela criatividade que seus alunos dispõem para realizações de oficinas literárias, oficinas pedagógicas, entre outras.  Você acredita que em todos os níveis do ensino mesmo com professores específicos, requer mais essa atividade que envolva o aluno através da ludicidade?
Com certeza, o conhecimento é lúdico, se o aluno não consegue abrir sua mente de forma criativa, ele vai se fechar e não despertará habilidades adormecidas. Atividades diferentes do tradicional “quadro e giz” e “aula expositiva” fazem com que os alunos mostrem outras formas de conhecimento e atitudes que são cruciais ao convívio social.

9 – Pretende fazer especialização, se sim, qual área almeja?
Já comecei duas especializações na área de História, mas desisti. A primeira foi História do Nordeste: desisti por ser muito rígida, era de segunda a sexta, das 7:00 às 11:20, como eu optei por ser independente, só tinha lan house como sustento, precisava cuidar do meu negócio e desisti.
A segunda foi em História do Brasil: era o inverso da primeira, tinha somente aula uma vez por mês, uma disciplina por sábado, resumida em 08 horas, faltava qualidade. Acho que não adianta estudar só para obter um título, os cursos devem ter um mínimo de decência.
Gosto de estudar, e quero fazer especialização, mas não na área de ensino, pois desisti de ensinar, e sim na área jurídica.
10 – Qual a sua mensagem para aqueles que ainda encontram-se nos bancos universitários objetivando ingressar na carreira docente?
Só se permita o desafio de ensinar, se esta for sua vocação, educação não é brincadeira.

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